Em um cenário cada vez mais competitivo e consciente do valor do capital humano, a área de Recursos Humanos desempenha um papel fundamental na criação de um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Nesse contexto, o monitoramento de indicadores claros e mensuráveis, torna-se uma das ferramentas estratégicas mais relevantes para uma tomada de decisões assertiva — e para a consolidação de uma cultura organizacional que valorize o bem-estar e engajamento dos colaboradores.

Neste artigo, abordaremos os principais índices que o departamento de RH deve acompanhar atentamente, como absenteísmo, turnover (rotatividade) e eNPS (employee Net Promoter Score), além de outras métricas relevantes. A análise dos dados provenientes desses indicadores revela a existência de problemas e, principalmente, aponta os caminhos necessários para a implementação de ações preventivas e corretivas, promovendo um ambiente de trabalho mais seguro, saudável e, por consequência, mais produtivo.

Absenteísmo

O absenteísmo refere-se às ausências dos funcionários no ambiente de trabalho, seja por faltas, atrasos ou afastamentos — e é um dos indicadores mais diretos e sensíveis da saúde ocupacional. Por exemplo: um índice de absenteísmo elevado é um sinal de alerta que não deve ser ignorado — e as causas estão frequentemente atreladas a questões de saúde física e mental.

As doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORTs), assim como as lesões por esforços repetitivos (LER) e os acidentes de trabalho são causas comuns de afastamento. Todavia, condições como estresse crônico, ansiedade e a síndrome de Burnout também são responsáveis por uma parcela significativa das ausências atualmente. Segundo a International Stress Management Association (ISMA-BR), 78% dos trabalhadores brasileiros relatam que o estresse afeta sua produtividade — o que, em última instância, pode levar ao absenteísmo.

O RH deve, portanto, analisar tais dados de forma qualitativa para detectar as causas subjacentes. Nesse sentido, a implementação de um sistema de rastreamento que identifique padrões nas faltas — como dias específicos da semana ou períodos do mês, entre outros — pode revelar gatilhos de estresse recorrentes. Além disso, é fundamental cruzar os dados de absenteísmo com outras informações, como pesquisas de clima organizacional e avaliações de desempenho, a fim de obter um diagnóstico mais preciso.

Turnover

O turnover, ou rotatividade de pessoal, é um indicador-chave que reflete a saúde do ambiente de trabalho. Uma taxa elevada de turnover pode indicar insatisfação com a cultura organizacional, falta de oportunidades de crescimento, remuneração inadequada e, sobretudo, um ambiente de trabalho inseguro do ponto de vista psicológico. Fatores como estresse excessivo, pressão por resultados, falta de apoio emocional e desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional tendem a fazer com que os profissionais saiam em busca de novas oportunidades em empresas que valorizem o seu bem-estar.

É importante destacar que, muitas vezes, a decisão de deixar um emprego é um reflexo do desgaste emocional do trabalhador — e da necessidade de preservar a própria saúde mental. As entrevistas de desligamento são, portanto, ferramentas valiosas para entender as razões da saída dos funcionários, e devem incluir perguntas específicas sobre bem-estar e fatores psicossociais do ambiente de trabalho. Essas informações são fundamentais para identificar problemas e implementar ações que façam da organização um lugar onde as pessoas queiram trabalhar.

eNPS (employee Net Promoter Score)

O eNPS é um indicador poderoso, que mede o nível de satisfação e lealdade dos profissionais. Sua pergunta-chave é simples e direta:  “Em uma escala de 0 a 10, o quanto você recomendaria a nossa empresa como um bom lugar para trabalhar?”, e as respostas são classificadas em três categorias:

  • Promotores (notas 9 e 10)

Colaboradores engajados, satisfeitos e que promovem a empresa de forma positiva;

  • Neutros (notas 7 e 8)

Colaboradores satisfeitos mas não entusiastas, ou seja, não promovem ativamente a empresa;

  • Detratores (notas de 0 a 6)

Colaboradores insatisfeitos, que podem falar mal e prejudicar a imagem da empresa.

Um baixo índice de eNPS pode indicar sérios problemas no ambiente de trabalho — e isso inclui diversas questões relacionadas à saúde mental. Profissionais que se sentem sobrecarregados, desvalorizados e sem apoio tendem a ser detratores. Contudo, a implementação de programas de saúde e bem-estar pode impactar direta e positivamente nesse índice. Afinal, ao cuidar da saúde física e mental dos seus funcionários, a empresa demonstra que os valoriza, aumentando sua satisfação, engajamento e senso de pertencimento.

Outros indicadores

Existem, ainda, outros indicadores que o RH deve monitorar para obter um panorama completo da saúde ocupacional na empresa, a saber:

  • Taxa de frequência e gravidade de acidentes de trabalho

Mede o número de acidentes e o tempo perdido devido a afastamentos. Reduções nesses indicadores refletem um ambiente de trabalho mais seguro.

  • Taxa de doenças ocupacionais

Monitora a incidência de doenças relacionadas ao trabalho, permitindo a implementação de ações preventivas.

  • Produtividade

A queda na produtividade pode ser um sinal de presenteísmo — ou seja, o funcionário está fisicamente presente, mas com a capacidade de trabalho reduzida devido a problemas de saúde, principalmente de ordem mental.

  • Utilização do plano de saúde

Um aumento na utilização de determinadas especialidades médicas pode indicar problemas de saúde específicos na população de colaboradores.

  • Pesquisas de clima organizacional

Avaliam a percepção dos funcionários sobre o ambiente de trabalho, incluindo aspectos relacionados à saúde e bem-estar.

Ações práticas para o RH

O acompanhamento dos indicadores de saúde ocupacional é apenas o primeiro passo para transformar essas informações em ações preventivas e corretivas. Entre as iniciativas que o RH pode promover, destacam-se:

  • Programas de bem-estar

Oferecer acesso a academias, aulas de ioga e meditação, entre outras atividades voltadas ao bem-estar físico e mental.

  • Suporte psicológico

Disponibilizar acesso a psicólogos e terapeutas.

  • Conscientização

Realizar palestras e workshops sobre saúde mental e bem-estar.

  • Capacitação de lideranças

Treinar os gestores para que saibam identificar sinais de estresse e esgotamento em suas equipes para oferecer o suporte adequado.

  • Revisão de políticas internas

Avaliar regularmente se fatores como as políticas de férias, os horários flexíveis e o trabalho remoto contribuem para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

A importância de abordagens orientadas por dados

A eficácia do monitoramento dos indicadores de saúde ocupacional está diretamente relacionada à adoção de uma cultura data-driven, ou seja, orientada por dados. Isso significa coletar, analisar e interpretar os dados de forma sistemática, utilizando ferramentas tecnológicas que permitam identificar tendências e suas correlações. A apresentação dessas métricas de forma clara e objetiva, por meio de dashboards e relatórios personalizados, oferece elementos essenciais para melhorar a comunicação com a liderança da empresa e avaliar as ações implementadas — além de, caso seja necessário, efetuar ajustes na estratégia.

Conclusão

Investir em saúde ocupacional é uma decisão que impacta diretamente os resultados do negócio. Colaboradores saudáveis e realizados são mais engajados e leais. Ao colocar a saúde e o bem-estar dos trabalhadores no centro da sua estratégia, o RH contribui para a construção de uma empresa mais forte, resiliente e preparada para os desafios do futuro. O acompanhamento desses indicadores, portanto, permite ao RH atuar proativamente na gestão de problemas, promovendo saúde e bem-estar aos profissionais em um ambiente de trabalho mais humano, seguro e produtivo.